04 Outubro 2021
COISAS DE HOMENS DE LUCAS BELVAUX CONTINUA EM EXIBIÇÃO
Coisas de Homens, o novo filme de Lucas Belvaux, protagonizado por Gérard Depardieu, continua em exibição. 

Seleccionado para a edição de 2020 do Festival de Cannes, Coisas de Homens é um filme sobre um grupo de rapazes que são enviados para a guerra e que regressam homens feitos e com segredos e cicatrizes invisíveis e indizíveis. Foram chamados para a Argélia na altura dos “acontecimentos” em 1960. Dois anos depois, Bernard, Rabut, Février e outros regressaram a França. Sem falar no assunto, viveram as suas vidas. Mas às vezes basta um quase nada, um dia de aniversário, um presente no bolso, para que quarenta anos depois, o passado irrompa na vida daqueles que acharam que podiam negá-lo.
E se nos fala da guerra de independência da Argélia e das sequelas que ela deixou na sociedade francesa, para nós, portugueses, que vivemos uma ainda mais longa e mais violenta guerra colonial, o filme diz-nos muito mais do que poderíamos querer admitir.

«Trata-se da história de jovens soldados que foram recrutados em 1960 para combater na Argélia nos meses que antecederam a libertação da Argélia como país independente de França. O filme inicia-se na actualidade numa festa de aniversário da irmã (Catherine Frot) de um desses jovens, hoje um velho alcoólico, ladrão Bernard, (Gérad Depardieu),  que interrompe a festa e que de imediato se percebe que é um ex-combatente que sofre de stress pós-traumático e se transformou num racista e homem violento cuja vida, desde o regresso da Argélia, tem sido o de um ressentimento permanente. Com inserts de flashbacks das cenas de violência e terror cometidas, tanto pelos soldados franceses, como por alguns grupos de combatentes argelinos, uma frase ecoa muitas horas depois do filme: “não há palavras que o descrevam”… “não há palavras que o descrevam”… “não há palavras que o descrevam”…
Como lidar com estas memórias da guerra é a questão que atravessa todo o filme e que este se realiza para que a guerra e a devastação dos países e das pessoas não se permita que seja silenciada, num processo que inclui a revisão da história a acontecer em França.
Que fazer com este portador de violência permanente, violador e violado? Talvez que a melhor resposta seja a de Rabut (Jean-Pierre Darroussin) primo e soldado do mesmo pelotão que decide não acompanhar a violência de Bernard, de não se deixar contaminar pela sua raiva, deixando de se aprisionar nas memórias daquela guerra de horrores que afinal não era um problema da Argélia; era uma problema de França, é um problema da Europa cujo terror em Orã, afinal, era igual ao da batalha de Verdun na Primeira Grande Guerra, como este estava presente no massacre de Wiriyamu. » António Pinto Ribeiro 

«Depois de ter abordado o populismo de direita em Esta Terra é Nossa, o belga Lucas Belvaux atira-se às feridas da guerra da Argélia nesta adaptação de um romance de Laurent Mauvignier. O melhor de Coisas de Homens é a sua inteligente estrutura narrativa, que parte do tempo presente para construir aos poucos, por acumulação quase impressionista, um mosaico de vivências e episódios. No centro estão dois primos que partilharam o serviço militar na Argélia, e as sequelas da guerra que deles fizeram quem são hoje. O filme começa numa festa de aniversário onde velhos rancores vêm ao de cima, para depois a história ir rodando por múltiplos narradores que, cada um à sua vez, insere uma peça que clarifica os eventos.» Jorge Mourinha, Público

«Retrato de uma geração que guarda as feridas interiores da guerra da Argélia, Coisas de Homens, de Lucas Belvaux, traz Gérard Depardieu em modo violento, com trauma justificativo. Aquilo que acontece ainda nos primeiros minutos de Coisas de Homens tem uma força brutal. Gérard Depardieu, no jeito de caminhar pesado do seu corpo volumoso e triste, entra num salão de aldeia onde decorre o aniversário de alguém, e a sua presença rude instala uma promessa de violência. Depardieu é Bernard, o irmão da aniversariante (Catherine Frot), que não foi convidado para a festa mas mesmo assim fez questão de aparecer com uma joia cara para a presentear em frente a todos. Um gesto delicado. » Inês Lourenço, DN

Veja o trailer aqui