06 Maio 2022
Com A Ilha dos Amores, o grande regresso de Paulo Rocha
40 anos depois de ter sido apresentado em Competição em Cannes, e 4 anos depois de lá ter regressado (à secção Cannes Classics, na sua nova versão restaurada) A Ilha dos Amores é agora reposta nos cinemas (Ideal e Trindade), editada em DVD e disponibilizada na Filmin e nos videoclubes das televisões, tudo a acontecer a partir do próximo dia 26 de Maio e coincidindo com mais uma edição do festival de Cannes.
Esta reposição trará consigo outro filme de Paulo Rocha, A Ilha de Moraes, e será ocasião para todos os seus filmes já restaurados e editados em DVD – sete no total * - ficarem também disponíveis na Filmin e nos videoclubes das televisões (NOS, Meo, Vodafone, Nowo).
Este novo acontecimento à volta da obra de Paulo Rocha – cineasta decisivo do cinema novo português e várias vezes presente nas selecções oficiais de Cannes, Veneza e Locarno – é resultado da colaboração da Midas Filmes com a Cinemateca Portuguesa, testamentária da obra do realizador, e que se iniciou em Abril de 2015 com a reposição e edição de Os Verdes Anos e Mudar de Vida.
A Ilha dos Amores
Composto em nove cantos e inspirado na vida e obra do escritor Wenceslau de Moraes, que saiu de Portugal nos finais do século XIX para buscar no Japão uma “arte de viver” que conciliasse o material e o espiritual. Uma das obras mais arriscadas do cinema português, em que o trabalho de mise en scéne é sobretudo realizado no interior dos próprios planos.
A Ilha de Moraes
Paulo Rocha voltou ao escritor Wenceslau de Moraes depois de A Ilha dos Amores, filme com que A Ilha de Moraes estabelece um diálogo íntimo. Para filmar a vida e obra do escritor português que viveu no Extremo Oriente, Paulo Rocha filmou documentos e lugares vividos pelo escritor, confrontando-os com os textos de Moraes e com o seu A Ilha dos Amores.
Filmes de Paulo Rocha, digitalizados, restaurados e editados
* Os Verdes Anos | Mudar de Vida | O Rio do Ouro | Se eu fosse Ladrão… Roubava | Máscara de Aço contra Abismo Azul | A Ilha dos Amores | A Ilha de Moraes
O que mais ressalta deste filme imenso não é tanto o transbordante fechamento do seu olhar mas a hierática nobreza com que Paulo Rocha desenha os habitantes centrais do seu mundo, dando-lhes, de repente, a aristocrática postura de quem não está – de facto – relacionado com coisa nenhuma a não ser com o seu próprio destino, consentindo-se uma espécie de directo acesso aos mecanismos de vida e da morte. Príncipes, certamente, na iluminada proximidade de deuses.
Jorge Leitão Ramos, Expresso, 2 de Março de 1991
Um tão desmesurado projecto não poderia existir sem o próprio devir do autor, na sua identificação com Moraes. Augusto M. Seabra, Público, 8 de Março de 1991
Um filme de uma riqueza e de uma densidade perturbantes, a um tempo biografia e poema, canto de amor e narrativa de aventuras meditação filosófica e ópera. Português, decerto, mas impregnado de cultura chinesa e, na sua última parte, inteiramente japonês, tanto que quase podíamos pensar que por ali passou a mão de um Mizoguchi ou de um kurosawa. Uma obra (…) cuja complexidade desconcerta e fascina. (…) Este filme espantoso, admirável (interpretado, entre outros, por Luís Miguel Cintra e Clara Joana) é uma obra iminentemente pessoal. A obra de um ctiador solitário, inspirado, que dá a impressão de se ter confundido totalmente com a sua criação.
Jean de Baroncelli, Diário de Lisboa, 28 de Maio de 1982
É um filme imenso. Imenso pelas perspectivas que abre ao espectador e que o levam numa longa viagem, um lento exílio ao interior de um só país: o cinema. A mais bela das viagens: paixão pela Ásia, amor passional e funesto por duas mulheres, paixão pela escrita de Wencesclau de Moraes, paixão de cinema em Paulo Rocha. (…) Filme de extrema beleza. Charles Tesson
Uma riqueza de inspiração e uma profusão de materiais culturais e afectivos que arrisca surpreender e desamparar o espectador na primeira visão. Joël Magny, Cahiers du Cinéma