28 Junho 2022
DONBASS DE SERGEI LOZNITSA continua em exibição nos cinemas
Donbass de Sergei Loznitsa continua em exibição nos cinemas. 

Filme já de 2018, consagrado no Festival de Cannes com o Prémio para o Melhor Realizador na secção Un Certain Regard, o filme não estreou então em Portugal (como também não em muitos outros países). Certo é que neste momento o filme ganhou uma acrescida e brutal actualidade e por isso a obrigação da sua estreia entre nós.

E daí também a importância e a relevância da sua estreia, tanto mais que a obra de Sergei Loznitsa tem vindo a ser regularmente divulgada em Portugal, divulgação cujo ponto alto mais recente foi o documentário Funeral de Estado.

Com efeito, acumulando episódios da vida nos territórios ocupados do Donbass – por separatistas e tropas russas informais – Loznitsa dá-nos um retrato brutal da situação que ali se vivia desde 2014.
Entre a loucura e o grotesco, mesclando comédia e tragédia, inspirado em acontecimentos reais mas sendo um filme de ficção, Donbass vai desenrolando episódio atrás de episódio em que uma personagem de um nos conduz ao seguinte e assim sucessivamente. Abrindo e fechando com uma reportagem televisiva completamente encenada, o filme faz-nos entrar num mundo de pós-verdade em que a propaganda e a mentira tomaram conta de tudo.
O filme, além do prémio em Cannes recebeu em 2019 três prémios da Academia de Cinema da Ucrânia (Melhor Realizador, Filme e Argumento) e foi a nomeação da Ucrânia para os Oscars em 2019.

«De certa forma, é uma espiral de (in)credulidade que, se não “prevê” a escalada de Fevereiro passado, acaba por “prever” as reacções a ela, o festival de confusão, desinformação, partis pris desencontrados, transformação da “verdade” e dos “factos” numa pasta maleável conforme os preconceitos e convicções dos observadores.» Luís Miguel Oliveira, Público

«A descoberta de Donbass permite-nos confirmar que Loznitsa é um dos cineastas contemporâneos mais empenhados em encarar, questionar e discutir o efeito de verdade das imagens - neste caso, permitindo-nos reavaliar o contexto ucraniano para lá da aceleração mediática do quotidiano.» João Lopes, DN 

«Sergei Loznitsa, o mais importante dos realizadores ucranianos e um dos mais fascinantes da Europa, partiu em busca de Donbass, em tempos de ocupação russa (ou independentista), mas ainda antes da invasão de 2022. O filme não é um documentário, aliás nem sequer foi filmado na região ocupada (por motivos óbvios), mas concilia elementos estilísticos próprios do género, como de resto é habitual noutros filmes do realizador.» Manuel Halpern, Visão 

«Revisto agora, Donbass ganha enquanto experiência premonitória. Aliás, o que é chocante é pensar como foi possível vê-lo e admitir que poderia haver outro desfecho para este conflito que não o da guerra atual. Não se espere de Donbass um filme que ‘explique’ o que se está a passar. O didatismo não é o seu forte. O que aqui está em causa é a antecâmara de uma tragédia. Em toda a sua complexidade, com toda a sua ambiguidade.» Francisco Ferreira, Expresso