03 Junho 2022
Donbass de Sergei Loznitsa estreia a 9 de Junho nos cinemas
Donbass de Sergei Loznitsa estreia a 9 de Junho nos cinemas. 

Filme já de 2018, consagrado no Festival de Cannes com o Prémio para o Melhor Realizador na secção Un Certain Regard, o filme não estreou então em Portugal (como também não em muitos outros países).
Certo é que neste momento o filme ganhou uma acrescida e brutal actualidade e por isso a obrigação da sua estreia entre nós.
E daí também a importância e a relevância da sua estreia, tanto mais que a obra de Sergei Loznitsa tem vindo a ser regularmente divulgada em Portugal, divulgação cujo ponto alto mais recente foi o documentário “Funeral de Estado”.
Com efeito, acumulando episódios da vida nos territórios ocupados do Donbass – por separatistas e tropas russas informais – Loznitsa dá-nos um retrato brutal da situação que ali se vivia desde 2014.
Entre a loucura e o grotesco, mesclando comédia e tragédia, inspirado em acontecimentos reais mas sendo um filme de ficção, Donbass vai desenrolando episódio atrás de episódio em que uma personagem de um nos conduz ao seguinte e assim sucessivamente. Abrindo e fechando com uma reportagem televisiva completamente encenada, o filme faz-nos entrar num mundo de pós-verdade em que a propaganda e a mentira tomaram conta de tudo.

«Na região leste da Ucrânia, onde uma guerra híbrida mistura conflito armado, crimes e tumultos perpetrados por grupos separatistas, a guerra é chamada paz, a propaganda é erguida como verdade e o ódio finge ser amor. Um périplo pelo Donbass numa série de aventuras loucas, em que o grotesco e o trágico se misturam como a vida e a morte. Não é um conto sobre uma região, um país ou um sistema político, mas sim sobre um mundo perdido na pós-verdade e em identidades falsas. Diz-nos respeito a todos. Loznitsa mostra no filme situações e episódios que podem parecer absurdos e grotescos, mas que acontecem verdadeiramente.”

O filme, que além do prémio em Cannes recebeu em 2019 três prémios da Academia de Cinema da Ucrânia (Melhor Realizador, Filme e Argumento) e foi a nomeação da Ucrânia para os Oscars em 2019, estreará em Portugal nos cinema no dia 9 de Junho.

Veja aqui o trailer. 

BRILHANTE E PETURBANTE - João Lopes, DN 
«De que falamos quando falamos da Ucrânia? O cineasta ucraniano Sergei Loznitsa (nascido na URSS, em 1964) não tem ilusões. E define assim o seu trabalho: "Em primeiro lugar, o que me interessa, e aquilo que me diz respeito, é o tipo de seres humanos gerados por uma sociedade comandada pela agressividade, a decadência e a desagregação". E com as mais céticas perspetivas de futuro: "São as pessoas, a sua mentalidade e as relações que estabelecem que preparam o terreno das catástrofes históricas". Tudo isso está no seu novo filme, o brilhante e perturbante Donbass, escolhido para a abertura oficial da secção "Un Certain Regard", em Cannes. (…) Não é um dossier político sobre a situação, mas sim uma visão atual das cidades e campos da Ucrânia, tendo como ponto de partida acontecimentos verídicos que o cineasta investigou, reconhecendo que, no seu misto de violência e absurdo, podem parecer inverosímeis. Através de várias histórias situadas na região identificada no título, Donbass possui a dimensão de um pesadelo colectivo, reflectido na vulnerabilidade dos destinos individuais.»

A ACTUALIDADE DO FILME É ÓBVIA - A.O. Scott, The New York Times
«Ver Donbass agora, enquanto os relatos das atrocidades russa na Ucânia dominam as manchetes, é irritante de uma forma difícil de descrever. A actualidade do filme é óbvia, e a forma como era presciente provoca, pelo menos neste espectador, um choque de vergonha. As imagens do que aconteceu na época são um prólogo para os horrores que estamos a testemunhar agora. Será que teria feito diferença se Donbass tivesse sido visto por mais pessoas antes deste ano? Será que pode fazer diferença agora? Talvez não. A arte não é uma alavanca que mova a história, mas uma lente que molda as percepções que temos dela. Algumas obras narrativas, tais como romances e filmes, iluminam de forma diferente o que podemos encontrar no jornalismo ou na história. Os filmes de Loznitsa (…) são até certo ponto explicativos, examinado as causas e consequências da guerra e do conflito político.»