24 Janeiro 2023
Novo filme de Jafar Panahi e duas obras-primas de Kiarostami: o Irão nos cinemas portugueses a 26 Janeiro
Com a estreia de Ursos Não Há (No Bears - Khers Nist), o novo filme de Jafar Panahi, e a estreia das versões restauradas de duas obras-primas de Abbas Kiarostami nunca estreadas entre nós - Onde fica a Casa do meu Amigo? e Trabalhos de Casa (de 1987 e 1989) -, a Midas Filmes renova o seu compromisso com o cinema do Irão, numa altura em que cineastas e actores e actrizes vêem a sua vida e o seu trabalho em risco de vida.

Ursos Não Há foi distinguido com o Prémio Especial do Júri no último Festival de Veneza, e Jafar Panahi, que se encontra sob prisão no Irão, foi também distinguido pelo Círculo de Críticos de Nova Iorque com um prémio especial pela sua “bravura obstinada como artista e pela humanidade e beleza de um corpo de trabalho criado sob as circunstâncias mais opressivas».

Jafar Panahi é um dos maiores retratistas do Irão contemporâneo, com filmes que mostram a sociedade iraniana de uma forma por vezes crua, outras poética ou metafórica, mas sempre com uma crítica social e política pujante. Ursos não há é provavelmente um dos seus filmes mais fortes nesta crítica ao regime iraniano, retrato de duas histórias de amor, uma que um realizador perseguido pelo regime (o próprio Panahi) tenta filmar à distância e outra a que assiste numa aldeia que é ela própria um microcosmos do Irão dos dias de hoje. Ursos Não Há é uma genial metáfora sobre o Irão e carrega uma enorme actualidade, antecipando as manifestações actuais pela luta pela liberdade no Irão.

Em simultâneo com a estreia de Ursos Não Há, a Midas estreia as cópias restauradas de duas obras-primas da fase inicial do trabalho de Abbas Kiaostami: Onde fica a Casa do meu Amigo? e Trabalhos de Casa, e que trouxeram o cinema iraniano para o primeiro plano do cinema internacional, primeiro em festivais e depois nas salas de cinema de todo o mundo. Kiarostami faleceu em 2016 e é considerado um dos maiores realizadores do mundo e a Midas estreou vários dos seus últimos filmes e reeditou muitos outros. Estes restauros, feitos pela Cinemateca de Bolonha e pela produtora MK2, foram apresentados numa grande retrospectiva e exposição no Centro Pompidou em Paris. São dois filmes sobre a infância, a amizade, a responsabilidade e sobre o sistema educacional iraniano que retratam bem a riqueza e complexidade da sociedade rural iraniana.

Na mesma data, os dois filmes de Kiarostami serão editados em DVD e estarão disponíveis para aluguer nos videoclubes dos operadores de televisão (NOS, MEO, Vodafone e Nowo).

URSOS NÃO HÁ
«O seu auto-retrato eleva-se a um novo nível de invenção, mas ao mesmo tempo desce a uma nova profundidade do desespero, no complexo, lúdico, colérico e devastador Ursos Não Há. Panahi interroga brilhantemente o fundamentalismo religioso, a misoginia do sistema e a dificuldade de filmar no Irão» Los Angeles Times

«Uma obra-prima» Rolling Stone

«A mais recente obra-prima metaficcional de Jafar Panahi. No filme, Panahi interpreta uma versão levemente ficcional de si próprio, um cineasta controverso enfiado numa aldeia fronteiriça iraniana, tentando escapar à vigilância das autoridades enquanto realiza à distância um filme na vizinha Turquia. O que começa como uma sátira aparentemente gentil torna-se um acerto de contas oportuno com os dilemas morais enfrentados pelas pessoas - especialmente as mulheres – que vivem sob um regime patriarcal e ditactorial.» Film Comment

«Um triunfo formal. Retrata os absurdos diários dos iranianos cujas vidas são governadas pela vigilância e a superstição.» The New Yorker

«Panahi faz um filme sobre um cineasta chamado Jafar Panahi (interpretado por ele próprio) que foi proibido de fazer filmes e faz uma ousada viagem até à fronteira turca para criar a sua arte. Embora seja uma versão ficcionada da vida do realizador, é um lembrete comovente e multifacetado do poder do cinema e do heroísmo real necessário para combater a opressão.» Wired

«Em Ursos não há, Panahi interpreta-se a si próprio, permitindo-se expressar ainda mais perplexidade e raiva do que revela nos seus filmes anteriores. O peso metafórico de Ursos não há é poderoso. No filme, Panahi é mantido refém por aldeões que, sem pensar, favorecem a tradição e a superstição sobre a humanidade, uma versão do que o seu governo faz na vida real, mas de uma forma ainda mais traiçoeira.» Time

«Poderosa ficção autobiográfica do cineasta iraniano agora preso, testemunha o esgotamento do povo diante de um regime pernicioso.» Libération

«Uma forma de rebelião contra uma ordem social hipócrita que é um eco premonitório das atuais revoltas das mulheres no Irão. Ao tirar o hijab, elas dizem à sua maneira: circulem, não há nada para ver, não há ursos.» Cahiers du Cinéma

Rodado na clandestinidade (e passado a um festival internacional, como aconteceu a Isto não é um Filme que chegou a Cannes numa pen dentro de um bolo), conta a história de um realizador no interior do Irão, na fronteira com a Turquia, que filma, sem o conhecimento das autoridades e procurando passar despercebido às mesmas, uma história, que ele quer o mais verdadeira e real, sobre os que fogem pela fronteira procurando vida fora do Irão. E quem interpreta a figura do realizador? Jafar Panahi, ele próprio cineasta proibido de filmar e de sair do país. E que se chama no filme Panahi.» Vasco Câmara, Público

#freejafarpanahi