09 Março 2017
O LEOPARDO NO CCB
O CCB continua o ciclo BELÉM CINEMA, em parceria com a Midas Filmes, com
Il Gattopardo, Palma de Ouro no Festival de Cannes de 1963, filme que é
considerado a obra-prima de Luchino Visconti e uma das obras essenciais
do cinema europeu.
O filme será exibido sábado, dia 18 de Março, às 16h00, no Grande Auditório do CCB. Os bilhetes custam 5 euros e já estão à venda.
Baseado no romance homónimo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, foi considerado pelo jornal The Guardian a melhor adaptação de sempre de um romance ao cinema, e um dos 100 filmes essenciais da história do Cinema.
Na década de 60 do século XIX, na recta final do Risorgimento, a monarquia italiana está em decadência e a aristrocacia vê-se ameaçada pela ascensão da burguesia e pelo desejo de uma Itália unficada. Il Gattopardo é a crónica do desvanecimento de uma família aristrocata siciliana, a família Salina, personificada na figura do Príncipe Don Fabrizio (Burt Lancaster). Após a incursão na Sícilia das tropas revolucionárias de Garibaldi, Don Fabrizio tenta a todo o custo preservar o estatuto da sua família na hierarquia social. Apercebe-se que, para isso, é inevitável fazer concessões e criar alianças com uma burguesia ávida de visibilidade. Assim, aproveitando o interesse do seu sobrinho Tancredi (Alain Delon) por Angelica (Claudia Cardinale), filha de Don Calogero (Paolo Stoppa), autarca de Donnafugata, Don Fabrizio tem a astúcia de incentivar o seu casamento e assim assegurar a sobrevivência do nome e estatuto da família nesta nova era.
Na convulsão de uma mudança no eixo social e económico da sociedade italiana, em que a pequena burguesia inculta e endinheirada toma o lugar da aristocracia dirigente falida, Visconti pinta um fresco sobre a decadência social e humana. O intuito de Visconti não era fazer deste filme um relato dos acontecimentos deste período da história de Itália, mas sim dar uma perspectiva subjectiva de um indivíduo que tem de se conformar com a inevitabilidade das mudanças sociais. O filme dá-nos o olhar lúcido e nostálgico deste homem, encarcerado entre a obsolescência e a revolução, sobre a paisagem humana e a encenação política de uma sociedade em profundo declínio e transformação. Uma transição que se consagra simbolicamente na longa sequência do baile, considerada uma das mais espectaculares da história do cinema.
Mais do que o enredo, é o ritmo do filme - sublinhado pela sublime banda sonora de Nino Rota - que imprime a carga melancólica, contemplativa e decadente das transformações em curso e da resignação que se revela, enfim, como o único desenlace possível.
Diz-se que Visconti terá revisto na história do Príncipe de Salina uma projecção da história da sua própria família (Visconti, que tinha o título de conde, era descendente directo da casa Sforza de Milão). Talvez por isso esta seja considerado o seu filme mais pessoal. Terá inclusivamente dado indicações a Burt Lancaster para o imitar na fala, gestos, posturas, pois ele próprio era a personificação de um nobre em decadência.
Burt Lancaster, que tem neste filme uma prestação memorável, não era no entanto a primeira escolha de Visconti para o papel de Don Fabrizio. Esta opulente produção, de cenários e figurinos tão sumptuosos e executados ao detalhe, exigiu um muito grande orçamento, longe de poder ser assegurado só pelos produtores italianos. Assim, para reunir o financiamento necessário para concretizar esta super-produção, foi proposto à americana 20th Century-Fox que completasse o seu orçamento. A Fox, que tinha todo o interesse em participar naquele a que chamou o E Tudo o Vento Levou italiano, exigia no entanto que o protagonista fosse uma estrela de Hollywood e tudo fez para convencer Visconti de que Burt Lancaster era a melhor escolha. Visconti, relutante em ter um “cowboy” a desempenhar o papel de um nobre siciliano, acabou por ter uma magnífica surpresa pela improvável força e carisma que Lancaster trouxe para a sua personagem.
Não é em vão que Il Gattopardo é considerado um dos filmes mais marcantes da história do cinema. Em 1963, no ano de estreia, foi o filme mais visto em Itália e esteve 40 semanas em exibição em França. Martin Scorsese, elegendo-o como o seu filme favorito e o melhor filme alguma vez feito, envolveu-se minuciosamente no restauro digital do filme, que após 12 mil horas de trabalho, recupera toda a riqueza de cores e detalhes da deslumbrante obra-prima de Visconti. É esta versão digital - restaurada em 4K e estreada no Festival de Cannes em 2010.
O filme será exibido sábado, dia 18 de Março, às 16h00, no Grande Auditório do CCB. Os bilhetes custam 5 euros e já estão à venda.
Baseado no romance homónimo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa, foi considerado pelo jornal The Guardian a melhor adaptação de sempre de um romance ao cinema, e um dos 100 filmes essenciais da história do Cinema.
Na década de 60 do século XIX, na recta final do Risorgimento, a monarquia italiana está em decadência e a aristrocacia vê-se ameaçada pela ascensão da burguesia e pelo desejo de uma Itália unficada. Il Gattopardo é a crónica do desvanecimento de uma família aristrocata siciliana, a família Salina, personificada na figura do Príncipe Don Fabrizio (Burt Lancaster). Após a incursão na Sícilia das tropas revolucionárias de Garibaldi, Don Fabrizio tenta a todo o custo preservar o estatuto da sua família na hierarquia social. Apercebe-se que, para isso, é inevitável fazer concessões e criar alianças com uma burguesia ávida de visibilidade. Assim, aproveitando o interesse do seu sobrinho Tancredi (Alain Delon) por Angelica (Claudia Cardinale), filha de Don Calogero (Paolo Stoppa), autarca de Donnafugata, Don Fabrizio tem a astúcia de incentivar o seu casamento e assim assegurar a sobrevivência do nome e estatuto da família nesta nova era.
Na convulsão de uma mudança no eixo social e económico da sociedade italiana, em que a pequena burguesia inculta e endinheirada toma o lugar da aristocracia dirigente falida, Visconti pinta um fresco sobre a decadência social e humana. O intuito de Visconti não era fazer deste filme um relato dos acontecimentos deste período da história de Itália, mas sim dar uma perspectiva subjectiva de um indivíduo que tem de se conformar com a inevitabilidade das mudanças sociais. O filme dá-nos o olhar lúcido e nostálgico deste homem, encarcerado entre a obsolescência e a revolução, sobre a paisagem humana e a encenação política de uma sociedade em profundo declínio e transformação. Uma transição que se consagra simbolicamente na longa sequência do baile, considerada uma das mais espectaculares da história do cinema.
Mais do que o enredo, é o ritmo do filme - sublinhado pela sublime banda sonora de Nino Rota - que imprime a carga melancólica, contemplativa e decadente das transformações em curso e da resignação que se revela, enfim, como o único desenlace possível.
Diz-se que Visconti terá revisto na história do Príncipe de Salina uma projecção da história da sua própria família (Visconti, que tinha o título de conde, era descendente directo da casa Sforza de Milão). Talvez por isso esta seja considerado o seu filme mais pessoal. Terá inclusivamente dado indicações a Burt Lancaster para o imitar na fala, gestos, posturas, pois ele próprio era a personificação de um nobre em decadência.
Burt Lancaster, que tem neste filme uma prestação memorável, não era no entanto a primeira escolha de Visconti para o papel de Don Fabrizio. Esta opulente produção, de cenários e figurinos tão sumptuosos e executados ao detalhe, exigiu um muito grande orçamento, longe de poder ser assegurado só pelos produtores italianos. Assim, para reunir o financiamento necessário para concretizar esta super-produção, foi proposto à americana 20th Century-Fox que completasse o seu orçamento. A Fox, que tinha todo o interesse em participar naquele a que chamou o E Tudo o Vento Levou italiano, exigia no entanto que o protagonista fosse uma estrela de Hollywood e tudo fez para convencer Visconti de que Burt Lancaster era a melhor escolha. Visconti, relutante em ter um “cowboy” a desempenhar o papel de um nobre siciliano, acabou por ter uma magnífica surpresa pela improvável força e carisma que Lancaster trouxe para a sua personagem.
Não é em vão que Il Gattopardo é considerado um dos filmes mais marcantes da história do cinema. Em 1963, no ano de estreia, foi o filme mais visto em Itália e esteve 40 semanas em exibição em França. Martin Scorsese, elegendo-o como o seu filme favorito e o melhor filme alguma vez feito, envolveu-se minuciosamente no restauro digital do filme, que após 12 mil horas de trabalho, recupera toda a riqueza de cores e detalhes da deslumbrante obra-prima de Visconti. É esta versão digital - restaurada em 4K e estreada no Festival de Cannes em 2010.